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“É essencial que cuidemos de nós como cuidamos dos nossos filhos”

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  • 17 de fev. de 2021
  • 5 min de leitura

Atualizado: 22 de fev. de 2021

Saúde mental: para uns é fundamental, para outros continua a ser tabu. Tratar da nossa saúde mental é tão importante como tratarmos da nossa saúde física. É cada vez mais importante desmistificar a questão da ida ao psicólogo e da importância de pedir ajuda.


Pedimos ajuda à Dra. Cláudia Morais, Psicóloga, Terapeuta Familiar e de Casal, para explicar a importância da saúde mental na vida de cada pessoa, principalmente numa altura tão delicada para todos como esta que atravessamos.

Boa tarde Dra. Cláudia, não podemos começar sem lhe agradecer a disponibilidade na realização desta

entrevista. Acreditamos que, essencialmente neste confinamento, vai ajudar muitas pessoas e acima de tudo incentivá-las a preocuparem- se mais consigo próprias.


Qual a importância da saúde mental na vida das pessoas e até que ponto as pode condicionar em atividades do dia a dia?

CM: Dependemos tanto da nossa saúde mental quanto da nossa saúde física – quer para que tenhamos energia para trabalhar, quer para que tenhamos ânimo para realizar a maior parte das atividades do dia a dia, mesmo aquelas que em circunstâncias normais nos dariam prazer. Um dos grandes desafios associados à saúde mental está no facto de os sinais de doença não serem tão óbvios. Quando temos febre, basta que utilizemos um termómetro para termos uma evidência clara daquele sintoma. Quando uma pessoa está ansiosa ou deprimida, nem sempre é fácil perceber que se trata de uma perturbação de humor que requer intervenção especializada e que pode ser altamente incapacitante.

Uma doença tão comum como a depressão pode assumir formas distintas. Quando a depressão se manifesta de forma atípica, a pessoa pode manter-se aparentemente funcional, pode não mostrar a tristeza através do choro e isso pode tornar mais difícil para quem está à volta reconhecer o problema. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico e a pessoa receber a ajuda de que precisa, mais rápida é a recuperação.


Numa fase tão delicada como tem sido a pandemia, porque é que, mais do que nunca, não podemos descurar da nossa saúde no geral, mas principalmente da saúde mental?

CM: O ser humano está “programado” para construir ligações afetivas. O nosso bem-estar psicológico depende muito da qualidade das nossas relações. Por outro lado, o isolamento social é potenciador de estados depressivos e ansiosos e até da deterioração da nossa autoestima. Por mais seguras e estáveis que sejam as relações com as pessoas com quem vivemos, o confinamento obriga-nos a estarmos longe de pessoas de quem gostamos e com quem estamos habituados a descomprimir e a divertir-nos.

Por outro lado, como a maior parte das pessoas estão em casa e acumulam uma multiplicidade de tarefas no mesmo espaço, é mais difícil definir limites entre a vida familiar e a vida profissional, o que eleva os níveis de stress e os conflitos familiares. Algumas pessoas chegam a atingir o burnout.


Como é que podemos desmistificar a questão da “ida ao psicólogo”, ou seja a ideia que muitas pessoas têm de que só pessoas com graves problemas mentais é que precisam de ajuda ao nível psicológico?

CM: Ouvimos falar cada vez mais sobre a importância da prevenção ao nível da saúde física e sobre a importância de não desvalorizarmos o aparecimento de determinados sintomas, sobretudo na medida em que não desapareçam ao fim de alguns dias. Se tivermos uma dor de cabeça, não vamos a correr para o hospital, mas se a dor de cabeça se prolongar ao longo de semanas, o mais provável é que agendemos uma consulta com o médico de família para perceber a origem daquele sintoma e a melhor resposta. Da mesma forma, não é expectável que vamos a correr para o psicólogo ao mínimo sinal de desconforto emocional. É saudável que tentemos gerir as nossas emoções e os nossos conflitos familiares através das nossas competências, mas é importante que saibamos pedir ajuda quando as dificuldades – individuais ou relacionais – se prolongam ao longo do tempo e comprometem o nosso bem-estar.


Ainda relativamente à ajuda, existem alguns sinais específicos que podemos ter em atenção e que nos indiquem que, de facto, precisamos de ajuda para trabalhar a nossa saúde mental, ou que estamos mal psicologicamente? Se sim, quais?

CM: Individualmente há alguns sinais a que podemos estar atentos e que podem ser indicadores de que precisamos de ajuda, nomeadamente: irritabilidade constante ou a sensação de que tudo nos enerva, dificuldades de concentração ou em tomar decisões, sensação de que atingimos o nosso limite, acordar a meio da noite ou dificuldade em adormecer, dificuldade em rir das coisas a que antes achávamos graça, dificuldade em relaxar, desmotivação em relação ao trabalho, vontade frequente de chorar ou desmotivação em relação ao futuro.


Qual a importância de pedirmos ajuda? E de aconselharmos alguém a pedir ajuda e não ter medo/ vergonha?

CM: É importante começarmos por aceitar que é absolutamente natural que sintamos medo, vergonha ou desconforto em relação a uma situação nova. Se nunca fomos a uma consulta de Psicologia, temos o direito a esses sentimentos, mas essa pode ser – e na esmagadora maioria das vezes é – uma sensação que se esbate logo na primeira consulta, quando percebemos que há alguém que está lá para nos ouvir sem julgamentos e que está habituado a lidar com situações como a nossa.

Uma das causas para a resistência a este pedido de ajuda está relacionada com a crença de que as nossas dificuldades são únicas, o que nos transforma em “aves raras”. Quando percebemos que as nossas dificuldades são comuns e, especialmente, que há um caminho que podemos percorrer na direção do bem-estar, tudo se torna mais fácil.


Que técnicas/ dicas pode dar a quem nos lê para manter a sua saúde mental equilibrada e estável?

CM: Como referi antes, a nossa saúde mental depende em larga medida da qualidade das nossas relações, em especial das relações mais próximas. É importante que consigamos continuar a cuidar destas relações, seja mantendo rituais de comunicação que nos permitam continuar a par daquilo que é importante para o outro, seja através de rituais de relaxamento e de diversão, ou da capacidade de darmos voz ao nosso desconforto. Quanto melhor formos capazes de dar voz às nossas queixas, centrando-nos em situações específicas e evitando ataques pessoais ou generalizações, maior será a qualidade das nossas relações. Somos mais felizes e sentimo-nos mais seguros nas nossas relações quando vivemos com a profunda convicção de que a outra pessoa se importa genuinamente com aquilo que sentimos.

Individualmente é importante que continuemos a tirar tempo para fazer aquilo que nos entusiasma e nos ajuda a relaxar – fazer desporto, experimentar atividades novas, descansar. Se a nossa vida for composta apenas pelo cumprimento de obrigações, o mais provável é que mais cedo ou mais tarde nos sintamos deprimidos e esgotados.

Como a nossa saúde mental está diretamente associada à nossa saúde física, é essencial que cuidemos de nós como cuidamos dos nossos filhos– assegurando uma alimentação equilibrada e horas suficientes de sono.


Recomenda a frequência assídua num psicólogo? Porquê?

CM: Como expliquei antes, não precisamos de recorrer a um psicólogo à mínima dificuldade, mas é importante que ofereçamos a nós mesmos a possibilidade de recorrer a este serviço sempre que identifiquemos essa necessidade.


Quais são as problemáticas mais comuns e que causam um maior impacto na saúde mental da maioria das pessoas?

CM: As queixas mais comuns estão relacionadas com perturbações depressivas e ansiosas, exaustão, solidão e problemas nos relacionamentos.


Muito obrigada Dra. Cláudia. Foi sem dúvida uma mais valia para todos nesta fase tão delicada para a população no geral.


Conheça a Dra. Cláudia Morais:

Se quiser entrar em contacto com a Dra. Cláudia Morais ou continuar a acompanhar seu trabalho, deixamos- lhe aqui o seu Instagram: @apsicologa_claudiamorais





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