"Sempre me foi inato pegar numa caneta e exprimir-me através da escrita, do desenho, ou da pintura"
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- 20 de fev. de 2021
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De Lisboa para Inglaterra, de Inglaterra para Amsterdão. De volta a Inglaterra e a pensar, quem sabe, em Singapura. É assim que Rita Patornilho, estudante de design perspetiva a sua vida.
Aos 23 anos preocupa-se em crescer enquanto pessoa, com a sua carreira e na enorme vontade que tem de correr o mundo e conhecer novas culturas, nas quais se inspira para os seus trabalhos!

Olá Rita, antes de mais queremos começar por te agradecer a tua disponibilidade para esta entrevista.
Em primeiro lugar gostávamos que te apresentasses e nos falasses um pouco sobre ti, quem é a Rita Patornilho?
RP: Enquanto pessoa, considero-me educada, amiga dos meus amigos, curiosa, independente, criativa e perspicaz. Gosto muito de pessoas em geral, tenho sempre vontade de aprender coisas novas, adoro viajar e conhecer o mundo. Sou uma pessoa com um sentido de humor apurado. Creio que também sou muito expressiva. Os meus amigos conseguem sempre saber o que penso através das minhas expressões. Enquanto cidadã, penso que estou atenta ao mundo que me rodeia. Informo-me, leio bastante, mas procuro refletir sobre os factos e não somente assimilar a informação.
Sabemos que assim que acabaste o secundário foste fazer a Universidade para Inglaterra. Conta-nos um bocadinho sobre esse período. Superou as tuas expectativas?
RP: Desde que me lembro de ser adolescente, de o meu grande sonho\ objetivo ser sempre estudar em Inglaterra e ingressar nas artes. Inglaterra pela sua grande tradição e prestígio internacional ao nível da indústria criativa e não só. Do processo de candidatura à universidade, recordo-me que consistiu em criar um portfólio, passar num exame de inglês, ter cartas de recomendação, motivação, notas, etc. Foi bastante extenuante e moroso porque para além de ter de preencher bastantes requisitos, estava simultaneamente a acabar as aulas e a carta de condução. Candidatei-me a várias universidades e creio que fui aceite em todas elas. Inicialmente queria mesmo viver em Londres, mas após a orientação da minha mãe, percebi que era melhor ir para uma cidade universitária, mais pequena, com menos ritmo e stress, para me poder adaptar e integrar mais facilmente. Penso que foi a melhor opção que podia ter tomado. Superou imenso as minhas expectativas, inclusive lembro-me de pensar, após ter concluído o meu primeiro ano, em como seria tão feliz a poder revivê-lo anos consecutivos. Foi um ano muito preenchido e rico, de aprendizagens, muito trabalho e muitas viagens curtas ao fim de semana. A adaptação foi fácil, porque me identifico com a metodologia de ensino e com o curso, fiz amizades para a vida toda com pessoas de todas as partes do mundo, arranjei dois part-times que adorava. Senti-me muito feliz e realizada!
Atualmente, já terminaste o teu curso? Estás a trabalhar em alguma área específica?
RP: Ainda não terminei o meu curso. Estou atualmente no último ano, de quatro de licenciatura. O meu BA (Hons) ofereceu-me a possibilidade de fazer entre o segundo e o último ano da licenciatura, um ano intermédio (a que chamam sandwich). Nesse ano foi me dada a possibilidade de o passar a trabalhar (no Reino Unido ou no estrangeiro), ou de estudar fora. Visto eu já ter tido a experiência de estudar fora, ao me ter mudado de Lisboa para Coventry, decidi que fazia mais sentido procurar oportunidades de trabalho, que me permitissem ter uma experiência profissional na minha área de estudos e complementar assim o meu portfólio, enquanto designer e aproveitar para construir uma redes de contactos profissionais. Assim sendo, em 2019, candidatei-me a várias oportunidades dentro e fora do Reino Unido, e acabei por ser escolhida para um desafio em Amesterdão, nos Países Baixos. Depois de ponderar, aceitei, porque acredito que as oportunidades são para ser agarradas quando aparecem, por mais desafiantes que sejam, procuro sempre estar à altura do presente. Confesso que a adaptação foi difícil, mas foi uma experiência extremamente valiosa e útil para o meu crescimento pessoal e profissional. Atualmente, estou a viver no Reino Unido e a terminar o meu último ano da licenciatura e trabalho em part-time como professora de Português. Simultaneamente faço algum trabalho de freelance em design (como aconteceu por exemplo com o vosso blog) e frequento um programa para o qual fui convidada pela universidade, chamado Global Leaders Programe, onde tenho acesso a vários workshops e palestras com profissionais importantes da indústria.
Para os mais distraídos, e que ainda não se aperceberam ou porque começaram a seguir o What’s Next mais tarde, foste tu quem criou o nosso logotipo, a nossa cara! Quando é que a tua vertente criativa, imaginária, veio ao de cima?
RP: A minha vertente criativa esteve sempre presente em mim, desde que me conheço. Sempre me foi inato pegar numa caneta, começar a pensar e exprimir-me ou através da escrita, ou do desenho ou da pintura. Tenho inclusive fotos no infantário, onde estou sempre agarrada a um cavalete. Sempre me senti fascinada por cores e tinta. Lembro-me também de praticar e desenvolver a minha assinatura nas paredes de casa dos meus pais (desculpem pais (risos)). A minha disciplina favorita, na escola, sempre foi EV.
Assim que te apercebeste deste teu lado criativo, decidiste apostar imediatamente neste teu dom ou ainda ponderaste outro caminho? O que é que te ajudou a tomar essa decisão?
RP: Não sei se foi apostar, era talvez o meu traço de personalidade mais preponderante. Ponderei outro caminho, sim, quando terminei o 9º ano. Era muito nova e tive de escolher especificamente a área que queria estudar. Decidi seguir Artes, e tomei essa decisão sozinha. Ao ser muito boa aluna, em quase todas as disciplinas, essa decisão foi questionada e fui de facto incentivada por alguns dos meus professores, a repensar e a seguir Ciências e Tecnologias. Isto fez-me refletir sobre se estava a tomar a decisão certa, em seguir a minha “vocação”. No entanto, mantive-me fiel a mim mesma, devido aos meus pais, que sempre desde muito nova me incentivaram a pensar e a tomar as minhas próprias decisões. Reconheço a sorte que tenho em eles me terem dito: “Rita, pensa por ti, escolhe o que te faz feliz e trabalha para isso.” Felizmente, eles nunca me pressionaram a ir de encontro aos estereótipos sociais de “se és bom aluno tens de ir para ciências”. Sou extremamente consciente e grata pela sorte de ter os pais espetaculares que tenho e de me permitiram ter a liberdade, com responsabilidade, de poder escolher e trilhar o meu próprio caminho.
Por Portugal ser considerado um país “pequenino”, sentiste receio em apostar no teu sonho cá e por isso foste estudar para fora?
RP: Não foi receio, sempre tive consciência que Portugal não é um país que invista na cultura ou nas artes, em geral. Basta analisar o orçamento de estado. Nem 1% é disponibilizado à cultura. No entanto, não foi só essa a razão que me motivou a estudar fora. Sempre senti uma necessidade de experienciar o mundo, viver outras realidades, para me inspirar, motivar e crescer enquanto pessoa.
Por falar em inspirar, no que é que te inspiras para os teus trabalhos criativos?
RP: As minhas maiores fontes de inspiração são, sem dúvida, as pessoas que conheço, os sítios que visito e os livros que leio.
Alguma vez te sentiste sem imaginação para algum trabalho? Qual foi a solução que arranjaste para te

inspirares?
RP: Que curioso perguntarem isso. Pela primeira vez, no ano passado, senti-me completamente frustrada criativamente. Devido ao confinamento e ao ter de passar a maior parte dos dias em casa fechada, sem estímulos, senti uma inércia gigante e uma desmotivação sem igual. Isto nunca me tinha acontecido porque estava sempre a viajar, trabalhar com várias pessoas e até me considero bastante self-motivated. Lembro-me de não conseguir literalmente pegar num lápis durante uma semana. Acho que foi a primeira vez que experienciei um creative block. Aí questionei se estava feliz a fazer o que faço, nestas circunstâncias. Ao falar com os meus, percebi que é especialmente recorrente não só nas áreas criativas, mas também noutras. A solução passou por me adaptar a esta nova realidade. Eu estava habituada a viver num frenesim, a trabalhar num estúdio repleto de pessoas, com espírito colaborativo e de repente isolada sem pessoas, sem motivação ao meu redor foi complicado. Mas a vida é assim. A única constante é a mudança. Temos de nos adaptar e trabalhar com o que temos. Aceitei, não desenhei nada essa semana, porque não me fazia sentido estar a forçar algo que não ia funcionar por não estar disponível emocionalmente para isso. Nessa semana, li, escrevi e falei com os meus amigos e procurei fazer um trabalho introspetivo a esse respeito.
Em que é que te vês a trabalhar no futuro? Pensas algum dia regressar a Portugal?
RP: No futuro vejo-me a trabalhar numa agência de design internacional, com um ambiente criativo e estimulante, na área de brand identity e packaging design. Paralelamente, vou procurar desenvolver projetos pessoais. Nunca digo nunca, no que diz respeito a regressar a Portugal, visto que a vida é bastante imprevisível. No entanto, estou a trabalhar e os meus planos estão no estrangeiro, e é por aí que quero crescer no futuro, a curto e médio prazo.
Quais são os teus próximos projetos?
RP: Os meus próximos projetos não podem ser revelados já, porque prefiro que sejam surpresa.
Se tivesses de sonhar, mas sonhar bem alto, onde é que te vês daqui a 10 anos?
RP: Se sonhar assim bem alto, vejo-me a receber um Óscar na categoria de Art Direction. (risos). Já prometi à minha mãe, que se isso acontecer, vai ser a primeira a ser mencionada no discurso. Honestamente, sonho e trabalho para viver, daqui a dez anos, uma vida estável e feliz, a trabalhar naquilo que me apaixona e move. Gostava muito de ter a minha própria casa, um cão e a continuar a sentir-me realizada com aquilo que alcancei com o meu trabalho e esforço. Adorava também viver uns anos em Singapura. Vamos ver se o COVID me permite...
Muito obrigada, mais uma vez pela tua disponibilidade. Muitos parabéns pela tua ajuda no início do lançamento deste nosso projeto, foste incansável connosco. Só te desejamos o melhor para o teu futuro!
Se ficaram curiosos com o percurso e trabalho da Rita Patornilho podem descobrir mais sobre ela através das suas plataformas digitais:
Instagram: @anaritapatornilho
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