"Não sou alta, tenho curvas, tenho peito, e tenho um tom de pele mais escuro"
- whatsnextblog
- 3 de abr. de 2021
- 7 min de leitura
Tem 23 anos, é vegan e está a tirar duas licenciaturas: Psicologia e Gestão de Recursos Humanos. Apesar de ainda jovem já tem um grande percurso para contar. Hoje fala- nos sobre sonhos, veganismo, a carreira de modelo e sobre preconceitos e estereótipos.

Olá, Tatiana, muito obrigada por teres aceite o nosso convite! No início de todas as entrevistas pedimos aos nossos convidados que se apresentem para que quem nos lê possa conhecê-los um bocadinho melhor!
Quem é a Tatiana?
TF: É uma modelo portuguesa de 23 anos, estudante de dupla licenciatura em Psicologia e Gestão de Recursos Humanos, vegan há 2 anos, o que mais gosta de fazer é cozinhar, dançar, fotografia e jogar.
Ainda estás a estudar Psicologia? Conta-nos um bocadinho sobre o teu percurso escolar e de que maneira é que se relaciona com o teu trabalho como modelo?
TF: Sim, encontro-me no 1º ano. Mas confesso que não foi a minha primeira escolha no ensino superior, decidi inicialmente seguir Gestão de Marketing, mas a verdade é que não me via a trabalhar na área. Posto isto, não há uma relação intrínseca entre a minha opção A (psicologia) e a minha opção B (modelo), mas penso que a psicologia, é a base para qualquer tipo de profissão, pois conhecemos como se processa a psique humana, e poderá ajudar-nos em momentos de maior stress, lidar com colegas, ou simplesmente fazer escolhas mais ponderadas.
Para quem possa não saber, no teu Instagram partilhas muito do teu dia a dia e inspiras muitas pessoas, principalmente mulheres a terem amor próprio e a aceitarem- se como são. Como é que surgiu essa interação nas tuas redes sociais entre as tuas partilhas e os teus seguidores?
TF: Desde que me lembro, a verdade é que desde os meus 14/15 anos, o meu corpo desenvolveu e eu engordei, durante 6 anos, que foi desde que criei a minha conta do Instagram, que sempre partilhei outras mulheres que me inspiravam, sempre apoiei, porque desde cedo, que tenho uma forte ligação com as mulheres, talvez porque não tenha crescido com o meu pai, ou alguma figura masculina, então a minha referência sempre foi a minha mãe. Durante esses anos em que criei as minhas redes sociais, paralelamente comecei-me a debater principalmente na escola, com a questão da autoestima, e lembro-me que me fazia muita confusão, as meninas nas aulas de Educação Física, não se vestirem à frente das outras, havia muitos tabus, e portanto, desde cedo apercebi-me que nós mulheres numa determinada altura, passamos por uma crise existencial sobre nós, o nosso corpo, e daí a minha abordagem querer ser sempre inclusiva, até porque sei que tenho um público feminino jovem/ jovem adulto, e é precisamente nestas fases, que é mais importante, mostrarmos que todas temos um corpo, e que não precisamos de passar a vida a odiá-lo, só porque não achamos que é igual a X ou Y. O amor próprio, passa sobretudo por não nos pressionarmos a ser/ fazer algo, aceitarmos a fase em que estamos, porque é isso, a vida são fases, e a nossa perspetiva do mundo e de nós mesmos vai amadurecendo cada vez mais.
Para além desse tipo de partilhas, também tens partilhado uma grande mudança que fizeste na tua vida! Cada vez mais tens adotado um estilo de vida saudável e até partilhaste a tua experiência sobre o veganismo. O que é que te levou a mudares ou a adotares este estilo de vida?
TF: Inicialmente foi por questões éticas, o meu impulso foi uma questão ambiental, lembro-me que foi no verão de 2019, quando se deram os incêndios na Amazónia, fui pesquisar mais a fundo e decidi naquele momento que não queria/ conseguia compactuar mais, mas depois o que acabou por ser o “turning point” e ajudou-me a manter a longo prazo, foi sem dúvida por questões de saúde, e por ser um estilo de vida, que mudou muito a minha forma de estar e ver a vida. Senti e sinto até hoje, os benefícios que me trouxe/ traz para a saúde. E não me vejo a mudar nunca mais.
Quais foram as mudanças mais significativas que notaste depois de teres iniciado essa mudança?
TF: Talvez a perda de peso, através das análises, baixei mais o colesterol LDL, deixei de ter tanta azia, e os meus intestinos começaram a funcionar melhor, vejo isso, pois refletiu-se imenso no cabelo, e na pele. Mas uma das mudanças mais significativas foi a nível mental/ humor, comecei a estar mais conectada comigo mesma, com os animais, com o planeta, com as pessoas, digo isto, porque sentia que antes passava a vida chateada com tudo e todos, sentia-me muito deprimida e não conseguia ver o lado bom das coisas. E ao comer mais à base de plantas, faz-me sentir leve e em paz.
Que conselhos darias a alguém que esteja a começar agora a iniciar- se no mundo da alimentação saudável e num estilo de vida melhor?
TF: Eu aconselharia sobretudo a pesquisa e análises ao sangue. Hoje em dia, com a quantidade de informação, e com acompanhamento certo, todas as pessoas conseguem fazer a transição. Há uma frase que é “ o ser humano demora 3 semanas a habituar-se a fazer algo” e é verdade. O que custa acho que é dar o 1º passo. Neste caso, é muito importante fazer-se análises, para se perceber que níveis que estão mais baixos ou mais altos, e de que forma poderemos suplementar, ou mudar para cuidarmos mais da nossa saúde. Em termos de informação, às vezes, através da internet é muito complicado filtrar informação correta, existem muitos estudos científicos para tudo, e sei também que muitas pessoas também não são acompanhadas por nutricionistas, então eu acho fundamental, as pessoas fazerem análises que não engana, e tentarem-se informar ao máximo. Algo que me ajudou muito, e aproveito para deixar sugestão são os cursos educativos da nutricionista Isabel Silva Pedroso, através do Instagram @ouveoteucorpo têm acesso a três cursos, que acho incríveis, muito úteis, e que nos ajudam não só a ouvir o nosso corpo (literalmente) como nos ensina a comer de forma equilibrada e consciente.
O que é que fazes quando te dá aquela vontade de comer coisas menos saudáveis? No final, ficas a sentir-te culpada, ou englobas o “cair na tentação” como uma coisa normal?
TF: Engraçado porque nem uma coisa nem outra, tenho trabalhado cada vez mais para não atribuir uma conotação negativa à comida (algo que devido à cultura das dietas é complicado) então, seja comida mais calórica ou menos, é comida. O nosso corpo precisa dela, como um combustível. Vejo hoje, as coisas desta forma, porque muitas das vezes, foi um gatilho para mim, esse tipo de pensamentos mais tóxicos e castradores. Se me apetece algo, como, sem culpas. Não é por comer de vez em quando algo que faz menos bem, que vou deixar de ser saudável. Até porque tenho consciência que não é saudável, e irei preferir sempre o que é.
No início da entrevista mencionámos que eras modelo, mas não abordámos muito esse teu lado. Sempre foi um sonho teu trabalhar no mundo da moda?
TF: Sim, aos 7 anos a minha mãe viu um anúncio no jornal, e tirei um curso de passerelle, fiz alguns desfiles, mas na altura as coisas, funcionavam muito por “cunhas”, e percebi que fui ficando de fora, porque a filha de A, foi escolhida. A minha mãe chateada acabou por me tirar de lá, mas anos mais tarde decidi tentar outra vez, e a verdade é que ouvi muitos “nãos”, mas nunca desisti. E a minha mãe sempre me apoiou, e vinha comigo para todo o lado. Hoje, posso dizer que é sem dúvida uma paixão e uma vocação, apesar de ter 23 anos, ambiciono chegar muito longe e divertir-me enquanto tenho beleza, carisma e garra. Eu transformo-me completamente, e isso é o que mais me fascina.
Comparando o teu trabalho de modelo com aquilo que tu achas que seria, sentes que te têm vindo a surpreender ou a desiludir?
TF: Sinceramente, a desiludir. Principalmente pelo mercado português, ser ainda muito fechado e vinculado a um tipo de corpo padrão, no qual, não me encaixo. Apesar de eu achar, que as marcas estão a ser cada vez mais inclusivas, e certos parâmetros já não serem exigências para se trabalhar, como o caso da altura, peso, tom de pele, e cabelo. Ainda há muito, o perfil “perfeito” e típico. Portanto é algo que de alguma forma entristece, porque sinto que os anos estão a passar, e eu não estou a ter o devido reconhecimento, e acaba por não haver tanta rotatividade e diferenciação de rostos, de corpos, de pessoas no geral, e é um mundo que também influencia bastantes meninas, que têm o sonho de trabalharem na área.
Alguma vez sentiste algum tipo de preconceito ou de estereótipos nesse meio tão difícil e competitivo?
TF: Sim claros estereótipos, preconceito nem tanto e não querendo ir muito a fundo na questão e na minha opinião, há 2 características que ainda são fatores de diferenciação: o tom de pele e gordura. Uma modelo com mais peito, ou uma modelo que tenha um tom de pele mais escuro, óbvio que vai ter menos chances. Que é precisamente o meu caso, não sou alta, tenho curvas, tenho peito, e tenho um tom de pele mais escuro, ainda que não seja considerada nem branca nem negra. Portanto há um estereótipo de corpo, ainda que as coisas tenham melhorado imenso, talvez também, por já terem morrido imensas modelos de anorexia, e o mundo ter mais awareness sobre isto, ainda há um longo caminho pela frente, para que haja, efetivamente uma maior inclusão de vários tipos de corpos.
Lidas bem com os comentários negativos que possam surgir relativamente ao teu trabalho ou à tua pessoa, visto que por teres tanta visibilidade acabas por estar mais “exposta”?
TF: Sim, hoje sim. Penso que à medida que vamos ficando cada vez mais velhos, vamos nos importando menos com o que as pessoas dizem e falam. E para manter a sanidade mental, eu simplesmente tento manter o meu ambiente o mais saudável possível, seja nas redes sociais como “na vida real”. Foi difícil fazer este filtro, mas à medida que também fui tendo outros interesses e focando mais em “viver” e não tanto em “mostrar” sinto que as coisas já não me afetam como antes. As pessoas vão sempre falar, bem ou mal, e quanto a isso não posso controlar, logo não dedico energia nisso.

Para terminar, como é que te imaginas daqui a 10 anos? Que sonhos tens por realizar?
TF: Daqui a 10 anos imagino-me bem sucedida e rica. Estou a trabalhar para isso (risos).Tenho o sonho de ser mãe, mas antes de poder viajar pelo mundo, fazer voluntariado, ter o meu mestrado e estar a trabalhar na área.
Mais uma vez obrigada Tatiana! Foi um gosto conversar contigo!
TF: O gosto foi todo meu, e muito obrigada também por me receberem e poder falar mais sobre mim e os meus pensamentos aleatórios sobre as coisas (risos).
Continuem a acompanhar o percurso e a vida da Tatiana através do seu Instagram: @tatianaaafernandes
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