“Não gosto de romantizar o empreendedorismo e muito menos de fazer parecer fácil aquilo que não é.”
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- 9 de jan. de 2021
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Focada, persistente e criativa. É assim que descrevemos a nossa primeira entrevistada. Carolina Cordeiro estuda Medicina em Lisboa e paralelamente criou uma marca de acessórios no Instagram que, no espaço de um ano, já conta com mais de 6 mil seguidores.

Olá Carolina. Antes de começarmos não podemos deixar de te agradecer por teres aceite esta entrevista.
Gostávamos que começasses por nos falar um bocadinho sobre ti.
CC: Olá Mariana e Cristiana! Antes de mais nada, quero muito agradecer o vosso convite e a oportunidade de poder contar um pouco sobre a minha história.
Então, eu sou a Carolina Cordeiro, tenho 22 anos, sou do Alentejo e estou atualmente a estudar Medicina, no 5° ano, em Lisboa. Além da faculdade e do trabalho na ORYA que me ocupam grande parte do tempo, gosto muito de viajar e conhecer novos sítios (embora este ano o COVID me tenha passado a perna!), gosto de ler, aprender e desenvolver novas habilidades que creio serem úteis para o meu desenvolvimento profissional e pessoal. Passo grande parte do meu tempo livre a estudar e a fazer vários cursos de Universidades como Yale e Harvard que sei que me são úteis para poder desenvolver a minha marca.
Como é que surgiu a ideia de criares a ORYA?
CC: Ui… complicado! Querem a versão curta ou a versão longa? (risos) Bem, eu acho que o nascimento da ORYA precisa de contextualização, até porque posso inclusive ajudar outras mulheres que estejam a passar pelo mesmo que passei. Embora a ORYA tenha surgido em 2020 já era um projeto meu há muito tempo! Quando eu decidi começar a estudar para me tornar Médica um dia, eu sabia que não queria ser apenas isso. Embora eu adore estudar Ciências e Biologia Humana, uma grande parte de mim sempre foi muito criativa e empreendedora. Os meus pais e avós contam-me que desde os meus 4/5 anos que tento encontrar formas de ganhar dinheiro (risos), fazendo colares de missangas ou de madeira e vendendo à família nos Natais e festas de aniversário e aos amigos nos intervalos da escola. Entretanto, fui crescendo mas nunca abandonei esse meu gosto por criar… passei por várias fases, desde pintar telas e fazer artesanato em caixas de madeira, até a gerir o branding e marketing de páginas de redes sociais de outras empresas. Eu até cheguei a ter um blog e um canal de Youtube de lifestyle, moda e beleza que duraram 5 anos! Isto muita gente não sabe, porque na altura não quis que se soubesse! Agora estão desativados. Nem todos os projetos precisam de dar certo, não é (risos)?
Quando entrei na faculdade dei por mim a afastar-me cada vez mais dessa minha outra paixão e isso começou a consumir lentamente a Carolina que eu era. Eu sabia o que tinha de fazer mas deixava sempre para depois, ou por falta de tempo ou de vontade. No 3º ano da faculdade passei por uma série de acontecimentos que me deixaram mais em baixo e percebi que necessitava de trabalhar novamente nessa criatividade para voltar a encontrar essa parte de mim que se tinha perdido. Numa noite, em Junho de 2019, comecei a escrever num caderno antigo tudo o que me fazia feliz antigamente e tudo o que precisava de fazer para trazer isso de volta para mim. A partir daí as coisas tornaram-se muito mais claras! A ORYA passou a ser uma ideia de projeto nessa noite. Durante as semanas seguintes, fui pensando muito, planeando e tornando claros os meus objetivos para 2020. Eu sempre fui muito vaidosa e sempre usei muitos acessórios durante toda a minha infância e adolescência. Aliás, uma grande parte deles era eu que os fazia! Por isso, não fazia qualquer sentido criar uma marca que não fosse de acessórios e “semi-joias” para mulheres. Além disso, dada a minha atual situação de morar fora de casa e estar a alugar um quarto em Lisboa, não podia vender nada que exigisse muito espaço e logística de armazenamento. Como é que se diz? “Juntou-se o útil ao agradável” e a ORYA nasceu.
Sendo uma marca um projeto que requer muito tempo e trabalho, como é que consegues conciliar com a tua vida pessoal e com os teus estudos?
CC: Mal. (risos) A resposta é mesmo essa. Eu não gosto de romantizar o empreendedorismo e muito menos de fazer parecer fácil aquilo que não é. É muito difícil conciliar o crescimento de uma marca e a manutenção de um negócio (sim, porque são coisas diferentes), a faculdade que me consome tanto tempo e a minha vida pessoal (ou o que resta dela). Mas a chave de tudo isso é a organização. Há meses mais fáceis do que outros, como é óbvio. Por exemplo, durante as épocas de exames é muito mais complicado para mim estar online e ativa em tudo o que é rede social. Mas eu tenho a sorte de além de ter criado uma marca ter criado uma comunidade de #oryagirls que entendem isso, que me respeitam e que têm carinho por mim, portanto, se eu disser que até final da época de exames só consigo fazer envios uma vez por semana, elas compreendem e desejam-me sorte para esses dias mais trabalhosos. Não me posso queixar… mesmo! A verdade é que a marca não cresceu só à custa do meu trabalho e empenho mas também do apoio incondicional de todas as minhas #oryagirls, que se tornam muito mais do que clientes: tornam-se amigas.
A ORYA nasceu em Janeiro de 2020, mas podemos dizer que teve um maior crescimento numa altura em que já havia uma pandemia. Sentes que se não estivéssemos numa fase delicada as coisas poderiam ter sido diferentes? Ou seja, poderias ter tido um maior crescimento, por exemplo?
CC: Sem dúvida! Como todas sabemos, a pandemia veio fechar portas a muitos negócios, sobretudo negócios que não estavam online, mas por sorte ou não, veio também alavancar o meu. Embora tenha nascido em Janeiro, só em Março é que eu olhei para a ORYA e percebi que não só podia como tinha de fazer dela o meu negócio e o meu trabalho. Como certamente aconteceu a muita gente, o trabalho dos meus pais ficou um pouco inseguro e eu não pude deixar de pensar que podia estar a fazer qualquer coisa para ajudar, caso eles viessem a precisar. Foi aí que arregacei as mangas e olhei para a ORYA com uma nova mentalidade.
Fazer crescer a ORYA numa época tão delicada foi muito difícil. Os acessórios não são considerados bens essenciais (pelo menos para muitas mulheres - já eu não posso dizer o mesmo (risos)) e eu temi que não conseguisse criar uma base sólida de clientes que me permitisse crescer.
Mas eu acredito muito no poder do Universo e na Lei da Atração, por isso sabia que se fosse para ser meu, haveria de chegar até mim. E assim foi! Eu acredito que as pequenas conquistas da vida têm de ser celebradas, mas a ORYA é ainda uma “micro-micro-empresa”, apesar de tudo! No entanto, eu tenho grandes planos para ela e não vou descansar até conseguir isso.
Em que momento é que te apercebes que é altura de fazeres um investimento maior? Que já não é só uma “loja” de instagram? Que tens que criar um site, melhorar a estética da página e das fotos que são o cartão de visita...
CC: No momento em que acreditas na tua marca. É muito isto! Eu deixei de querer ser apenas uma loja de Instagram no momento em que acreditei no potencial da minha marca. Se eu queria profissionalismo tinha de criar um site! Se eu queria crescer tinha de investir! Não vou mentir: investir durante uma pandemia impõe respeito e levanta mil e uma dúvidas na nossa cabeça. Mas, mais uma vez, eu confiei que ia dar certo.
Eu não comecei com muito… A ORYA nasceu em Janeiro com apenas 200€ que tinha conseguido juntar do Natal passado e de algumas poupanças que tinha… Depois, durante os primeiros meses que se seguiram, quase tudo o que eu lucrava era para reinvestir de novo. E atenção que quando se fala de investimento não é apenas de investimento monetário... É preciso investir muito tempo e muita vontade para que dê certo!
O facto da ORYA estar a crescer, mais do que se refletir em números e vendas, reflete- se no facto de estares a construir uma comunidade certo? Criaste uma imagem de credibilidade, os teus seguidores confiam em ti e no teu trabalho, o que sentes em relação a isso?
CC: Estou muito grata por tudo o que aconteceu, mas sobretudo porque, como disseram, criei uma comunidade além duma marca. Como também já disse aqui, isso trouxe-me várias vantagens no que toca à gestão da loja online. As minhas clientes conhecem-me e sabem com o que podem contar. Pertencer à comunidade das #oryagirls, tenha eu sido a sua fundadora ou não, enche-me de orgulho. Sabem aquele sentimento de identificação e pertencimento a uma comunidade? Foi isso que eu criei. As minhas clientes sabem que não são apenas mais uma venda ou a encomenda número X; as minhas clientes são a Margarida, a Beatriz, a Ana e Maria - as minhas clientes são #oryagirls e sabem que podem falar comigo sempre que quiserem pois serão tratadas à altura das Mulheres que são.
Este é um dos aspetos que mais te orgulha no teu percurso enquanto criadora da ORYA?
CC: Sem dúvida nenhuma que sim. Isso não tem preço! Muitas pessoas prendem-se (a meu ver, erradamente) com número de seguidores… Isso para mim interessa ZERO. Hoje em dia, seguidores compram-se e ter seguidores não significa ter vendas… Mas ter uma comunidade e uma base sólida de clientes que confiam em mim, sim!
Achas que esta relação de confiança entre ti e as tuas clientes também se deve ao facto de colocares outro tipo de conteúdos na tua página? Abordas muitas vezes temas como o empreendedorismo feminino, a importância de nos apoiarmos umas às outras...
CC: Não posso falar pelas minhas clientes, mas se eu tivesse que apostar acho que vai muito além disso. Claro que abordar temas com os quais me identifico e que me representam enquanto criadora e fundadora da marca, ajuda a criar uma comunidade que acredita nos mesmos valores que eu. Mas eu acho que para conquistar a confiança é preciso muito mais. A confiança constrói-se com base no bom feedback de outras clientes, com base na boa experiência de uma compra que fizeram, com base no bom atendimento que têm da minha parte. Eu recebo muitas vezes mensagens de #oryagirls a tratarem-me pelo nome a abordarem-me de tal forma que parece que me conhecem há anos! E é mesmo isto que eu, sem muito esforço, consegui criar. Na verdade, todas essas #oryagirls me conhecem porque eu me expus e porque apareci atrás da marca. Aparecer gera confiança! Pessoas compram de pessoas, não é verdade?
Para além de serem causas que defendes e acreditas achas que é importante falar nelas porque sentes que ainda não está enraizado nas pessoas, nomeadamente nas mulheres e que faz com que o teu trabalho seja desvalorizado?
CC: Eu não permito que desvalorizem o meu trabalho. Se eu permitir que pessoas que não conhecem a minha realidade atrás da empresa desvalorizem o meu trabalho, então eu não acredito verdadeiramente nele. Eu sei que os acessórios e “semi-jóias” que eu vendo têm valor além do preço porque eu lhes acrescentei valor além disso. Claro que eu nem sempre pensei assim… mas ao longo da minha curta jornada fui lidando com muita injustiça e desrespeito e entendi que eu tenho de ser a primeira pessoa a respeitar-me a mim, ao meu trabalho e à minha empresa. No momento em que eu percebi que dependia de mim, nunca mais ninguém desvalorizou o meu trabalho. Claro que ainda há pessoas que me enviam mensagem a pedir para baixar o preço de um colar de 12€… mas ao passo que eu dantes me preocupava em poder estar a perder uma venda, hoje sei que não quero que essas pessoas sejam minhas clientes porque nunca serão verdadeiras #oryagirls.
Eu acho importante falar do assunto porque há ainda muita desigualdade de género e oportunidades, e acredito que o meu testemunho possa ajudar alguma Mulher a acreditar e seguir os seus sonhos.
Que tipo de rumo queres dar à tua marca? E na página do Instagram queres continuar a abordagem a diferentes temas?
CC: Há ainda muita coisa boa para vir…Tenho muitos planos e projetos para colocar em andamento! Na verdade, muitas vezes o que me falta é tempo para conseguir fazê-los... Mas se demorar um pouco mais, não interessa - o que interessa é que aconteçam! O que vos posso dizer é que tudo o que está para vir será melhor ainda! Não posso dar spoilers, não é?
O que é que desejas para este novo 2021? Para ti e para a ORYA.
CC: Eu não sou muito uma pessoa de desejos, sabiam? Eu traço metas e objetivos, escrevo-os para os exteriorizar para o Universo e depois cumpro-os ou não. Isso de pedir desejos é uma atitude muito estoica que nos coloca numa posição de espectador em vez de agentes da ação. Se é para acontecer ou não acontecer, que seja porque eu tomei parte nisso!
Quero que a ORYA continue a crescer e a trazer autoestima e empoderamento às mulheres que usam ORYA Jewelry. Quero que continue a ser um desafio para mim e que me continue a fazer sentir realizada!
Para mim, estabeleci alguns objetivos mais relacionados com o meu desenvolvimento pessoal e com a minha saúde física e mental. Quero ler mais livros do que aqueles que li este ano (que não sejam sobre Medicina, claro! (risos)), quero fazer mais exercício físico e meditação.
Mais uma vez, agradecemos muito a tua disponibilidade e a tua prestabilidade. Desejamos- te a maior sorte do mundo!

Se quiserem acompanhar as novidades e seguir a página da ORYA deixamos- vos aqui o Instagram: orya.store
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