" Ler é essencial e é essa a mensagem que procuro transmitir"
- whatsnextblog
- 8 de mai. de 2021
- 6 min de leitura
Tem mais de 20 anos de experiência na área da escrita. Escreveu textos para websites e blogues; artigos para redes sociais e foi diretora de Marketing e Comunicação. É responsável por vários cursos de escrita criativa onde ajuda pessoas a “libertarem-se” e a melhorar as suas capacidades de comunicação.
Em 2019 lançou o seu primeiro livro infantojuvenil e hoje conta- nos todo o processo e trabalho deste mundo da escrita.

Bom dia Analita, queremos começar esta entrevista por agradecer a sua disponibilidade!
Já é comum aqui no nosso blog pedirmos aos nossos entrevistados para fazerem uma breve apresentação, de modo a que , quem nos lê, se possa sentir mais ligado à pessoa em questão. Por isso, quem é a Analita?
AAS: Antes de mais, muito obrigada pelo convite. Começa com uma pergunta bastante complexa. Isto de dizermos «quem somos» não é fácil, porque somos muitos, num só. Posso afirmar que sou uma pessoa determinada, que raramente aceita uma porta trancada. Gosto de explorar os diversos ângulos de qualquer questão. Tenho foco nas resoluções e não nas contrariedades. Já fui perfecionista. Agora, procuro a excelência em tudo o que faço, mas já me convenci que a perfeição não existe. O meu compromisso com a qualidade está sempre presente, mas não deixo que essa busca me impeça de avançar. Sou humilde e por vezes, até inocente. Já me «puxaram o tapete» algumas vezes, mas isso não me tornou calculista, simplesmente, mais atenta. Utilizando um velho cliché, considero-me «um livro aberto».
Tem um percurso incrível e uma experiência também fantástica. Escreve profissionalmente há mais de 20 anos, escreveu textos para websites e blogues, artigos para redes sociais e chegou a ser diretora de marketing e comunicação. Como é que chegou até aqui?
AAS: O meu percurso como o da maioria das pessoas tem sido uma montanha russa. Vinte anos é muito tempo. Tempo suficiente para viver realidades intensas. Algumas boas, outras, nem por isso. Em todas as situações aprendi alguma coisa. Transformei-me. Demasiadas vezes, de forma dura. Mas, mais do que a vontade de olhar para trás e constatar o que já fiz, interessa-me o que quero fazer, o caminho a percorrer.
Na sua plataforma “ O prazer da escrita” lança vários cursos online onde ajuda pessoas a melhorar as suas capacidades de comunicação, a escrever um livro, entre outras coisas. Como surgiu a ideia de criar este tipo de cursos?
AAS: A ideia de criar este tipo de cursos veio da minha própria experiência. Há muito que frequento formações na área da escrita criativa, storytelling, comunicação criativa e fui-me apercebendo, que apesar dos melhores conhecimentos técnicos, faltava sempre uma humanização, um acompanhamento mais dedicado, que apoiasse as pessoas a colocar essas aprendizagens em prática. Quantos de nós, compramos cursos que depois não concluímos? O projeto «O Prazer da Escrita» advém dessa constatação e também do meu desejo de partilhar o meu gosto pela escrita, pelas palavras e pelos livros com os outros.
Digo em tom de brincadeira, mas com seriedade, que sou uma «ativista literária». Ler é essencial e é essa a mensagem que procuro transmitir. O clube de leitura online, é disso um forte exemplo. Os encontros literários mensais juntam pessoas de diversas lusofonias, vários fusos horários para partilharem em grupo as suas leituras individuais. É muito gratificante. O mesmo acontece com o programa online «Escrita em Ação» e o minicurso «Semana da Escrita», eventos que se realizam três vezes por ano, sempre com uma adesão extraordinária.
Que tipo de Feedback recebe depois destas iniciativas?
AAS: Maravilhoso. Basta espreitar a minha página de Facebook. São muitos os testemunhos. E só comecei a ministrar formação online a partir de abril de 2020. As minhas formações eram antes todas presenciais. A pandemia exigiu-me uma adaptação e estou muito contente com o resultado. Sinto-me muito grata por fazer o que gosto e exercer um impacto positivo noutras pessoas em tantas partes do mundo, pessoas que também têm essa mesma paixão pela escrita.
Em 2019 lançou o seu primeiro livro infantojuvenil. Em que é se baseia o processo de criação de um livro?
AAS: Essa é uma pergunta que ocuparia mais de uma página. Posso partilhar de forma sucinta e, como afirma Margaret Atwood: escrever um livro é um verdadeiro ato de otimismo — o escritor é alguém que acredita que consegue escrever uma história relevante, que uma editora vai querer publicar e que os leitores vão desejar ler. É preciso mesmo muito otimismo para acreditar que tudo isto pode realmente acontecer, a partir do momento em que começamos a transformar letras em palavras num ecrã ou numa folha de papel.
A criação de um livro é processo moroso em que o reescrever é quase tão importante como o escrever; em que é necessário uma grande dose de obsessão. E humildade. É necessário obsessão para começar, continuar e terminar uma história; humildade para perceber que a primeira versão daquilo que escrevemos é uma tremenda porcaria. Tão simples e direto quanto isto: quem deseja escrever e não tem esta consciência ficará provavelmente no mundo dos desejos por concretizar. No seu livro «A Louca da Casa», Rosa Montero afirma “(…) para ser um bom escritor, é preciso desejar sê-lo, e desejá-lo, além disso, febrilmente. Sem a ambição disparatada e a soberba de criar uma grande obra, nunca se poderá escrever nem sequer um romance mediano.». Não podia estar mais de acordo.
No fundo, em que é que consiste o trabalho de um escritor? Muitas pessoas não sabem, ou não têm noção do processo por detrás de uma obra já feita: a pesquisa, as tentativas, por vezes lidar com a frustração…
AAS: Escrever é um «ofício» diz Stephen King no seu livro «Escrever», e como tal, exige um labor constante de lapidação das páginas, capítulos, parágrafos e palavras até surgir algo capaz de tocar o leitor, de o deixar diferente após a leitura do nosso livro. O trabalho de um escritor está muito longe do conceito onírico do ato de criação literária. É doloroso. São muitas horas sentada, cãibras nos dedos, nas pernas. Para não mencionar aqueles momentos em que não apetece, mas precisamos de escrever. O início é sempre muito fácil. É no continuar que reside a principal dificuldade e a frustração nem sempre fica oculta entre o pó do teclado.
Relativamente à pós- graduação em escrita de ficção que tirou na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, que aspetos considera que de facto fizeram a diferença na sua vasta carreira neste meio?
AAS: A pós-graduação (que ainda não terminei) veio preencher e ligar muitos pontos da aprendizagem que tenho feito ao longo os anos. Estou ainda a começar. Não penso «em vasta carreira». Posso falar numa grande paixão pela escrita de ficção desde jovem, mas que só em 2019, começou a ganhar contornos reais. Tenho experiência sim, mas a ficção é um mundo completamente à parte e nesse universo sou uma «aspirante». A pós-graduação está a ajudar-me bastante a melhorar muitos aspetos da minha escrita.
De todas as áreas nas quais já trabalhou, qual é aquela que lhe dá mais prazer e lhe faz puxar mais pela criatividade na hora de escrever?
AAS: O que chamamos de «criatividade» na escrita é na minha opinião, uma amálgama de tudo o que sofremos, lemos, observamos, sentimos, cheiramos, tocamos, saboreamos, todos os dias em que temos o privilégio de acordar. O que me faz puxar mais pela criatividade é estar viva; desperta para o palco do mundo, as suas sensações e emoções boas e menos boas. Tudo isto é invocado no momento da escrita: todos os «fantasmas» e memórias que habitam em nós desde que nascemos, de forma consciente ou inconsciente, passam-nos pelos dedos e começam a viver fora de nós, numa folha de papel.
Se tivesse de escolher apenas um género para escrever para o resto da vida, qual escolhia?
AAS: Posso dizer que tenho uma grande preferência por contos, mas ainda é muito cedo para conseguir responder a esta questão. Estou ainda a descobrir a minha «voz literária». Sei que quero escrever «narrativas de ficção» de qualidade. O resto será revelado uma página de cada vez.
Mesmo a terminar, que planos tem para este ano?
ASS: Neste Natal, vou publicar um novo livro infantil. Participarei em duas coletâneas de contos, edições de autor e espero finalizar o romance que está a «repousar». Também vou lançar um novo projeto literário, mas do qual ainda não quero revelar muito mais. Em outubro, terei a última edição de 2021 do programa online «Escrita em Ação». Tenho previsto participar em várias formações na área da escrita, terminar a pós-graduação e continuar a dinamizar o clube de leitura «Encontros Literários O Prazer da Escrita». Resumindo, quero continuar a ler, aprender, escrever e partilhar conhecimentos.

Mais uma vez muito obrigada Analita, é um gosto enorme poder conhecer mais sobre o mundo da escrita que, para nós em particular, é fascinante!
Acompanhem todas estas novidades no Instagram da nossa entrevistada: @analitaalvesdossantos
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